A Casa Da Rita Gomes | O Lado Emocional Do Minimalista.

Conheci a Rita Gomes há duas Moda Lisboa atrás. Já conhecia o seu trabalho (que amo do verbo amar) mas ainda não a conhecia pessoalmente. Dirigi-me ao seu spot de venda no Wonder Room e perguntei se era A Wasted Rita – Sou, diz ela num sorriso e olhar envergonhados.

A Rita é assim, um olhar entre o provocateur e o naïve, sorriso simples mas cheio de certezas – certezas essas que nos ajudam a sentir mais vivos, mais humanos tal e qual como expressa na sua arte.

A casa onde vive é o seu espelho, o espelho das suas palavras estilizadas, minimalista mas jamais simplista. Para quem aprecia verdadeiramente o simples, ou seja, aquilo que já foi complexo mas que se conseguiu espremer ao essencial sabe do que falo.
Tudo está absolutamente no sitio certo, nada fora do lugar. Há peças que adquirem outras funções, como a t-shirt que vira tela pregada à parede, uma estante que exibe vários pares de ténis como se de uma sapateira se tratasse (ou os ténis meras peças de arte contemporanea), mas sempre tudo imaculadamente organizado. 

Entrem, deixem os sapatos à porta, subam as escadas, acomodem-se porque vamos entrar numa casa com vista para o céu, para o futuro e para os sonhos que nunca devemos abdicar.  

Subimos as escadas para aquele que outrora foi um sótão e vemos imediatamente a sua war station, ainda que seja conhecida pela artista cuja secretária preferida é a sua cama. Imediatamente sente-se um espaço minimalista e altamente funcional como um foguetão prestes a zarpar em direcção à lua, à sua lua que se chama Nova Iorque. 

O espaço é completamente enaltecido pela luz lisboeta. Diz que é um espaço privado cujas áreas estão bem definidas (sem necessidade de traços) – dum lado o trabalho, do outro o quarto sem que haja necessidade de barreiras. A isto eu costumo chamar confiança no espaço, algo muito difícil de conseguir quando passamos horas a fio a trabalhar a partir de casa.

Há um canto difícil de digerir, diz ela. Há qualquer coisa que falta naquele cubo espacial (mais luz), mas foi exactamente ali que eu me sentei, cruzei a perna à conversa e troca de experiências com a Rita – eu falei das minhas bravuras, ela das suas ambições, das minhas derrotas e das batalhas que ela já traçou. 

Quando passei a linha imaginária para o seu quarto percebi imediatamente na ligação que existe entre este espaço e a sua colecção Love Letters. Talvez não seja nada assim, talvez seja só o cor-de-rosa que os une, mas algo me disse que a fofura do espaço, as texturas das mantas, candeeiro de papel, da rosa ainda no vaso mas já murcha, da almofada de veludo e dos acessórios de moda não podiam ser um acaso porque aqui não há espaço para coincidências.

Esta casa é o presente da Rita Gomes, WASTED RITA para os amantes da sua arte. Amanhã pode ser outro canto, noutra cidade, noutro país, continente ou até mesmo noutra galáxia – não sabemos, mas sei que será tão “minimalist-ó-emocional” como este.

Para os curiosos visitem a Underdogs10 onde decorre uma exposição a solo do seu trabalho.